“Moro num país tropical, abençoado por Deus
E bonito por natureza, mas que beleza
O ano inteiro (o ano inteiro)
Tem pão e circo (pão e circo)
Tenho o Bolsa Família
Sou Flamengo
Tenho uma diversão
Chamada futebol”
Roma Antiga. A escravidão nos latifúndios conquistados gera desemprego na zona rural. Um intenso êxodo rural afeta o Império. Cidades superlotadas, população com fome, descontente. É nesse cenário que surge a política do panem et circenses, ou pão e circo, como preferirem.
O pão e circo consistia de uma política adotada pelo Imperador para evitar revoltas. Espetáculos de sangue eram promovidos nos estádios para divertir a população. Nesses estádios, pão era distribuído à população. Apesar do desemprego, apesar de toda a pobreza, apesar de todas as péssimas condições de vida, a população ria, de barriga cheia.
Um povo feliz e bem alimentado é fácil de ser governado.
Brasil, 2009. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego é de 8,1%. Sistema de saúde precário, falta de saneamento básico, favelas, desmatamento, falta de infra-estrutura, níveis altíssimos de violência, corrupção no governo.
Mas a maioria da população só quer saber de duas coisas: Futebol e/ou novelas. Mesmo com todos esses problemas de nível nacional e a crise mundial, o brasileiro só quer saber que time vai ganhar o Campeonato.
Alguma semelhança com Roma Antiga não é mera coincidência. Vivemos sob o panem et circenses.
Esqueçam gladiadores e suas armas, esqueçam corridas de bigas, esqueçam animais exóticos. Hoje em dia a coisa mudou de forma. Os circos manifestam-se em outras formas: Carnaval, futebol, novelas…
Durante o Carnaval, o brasileiro só quer saber de belas morenas sambando seminuas na avenida e grandiosos carros alegóricos. Não importa se está desempregado, a “peladinha” do final de semana é sagrada para os homens. Com ou sem comida, as donas de casa não perdem um capítulo das novelas. Não importa se o Brasil não investe o suficiente em educação, o brasileiro só quer saber da Copa do Mundo de 2014, que será sediada aqui.
[Sugestão de post: O teatro virou a ante-sala da pizza – Parte 1: Sociedade brasileira]
O povo tem divertimento. Na “vida perfeitinha” das novelas, onde normalmente tudo dá certo pros bonzinhos no final, o brasileiro refugia-se da triste realidade em que vive, mesmo sem saber disso. Na ridicularidade de programas como Casseta e Planeta e Zorra Total encontra divertimento de baixo nível, encontra motivo de riso. Não está nem aí se o presidente da nação chamou de “imbecis” e “ignorantes” os que desaprovam o Bolsa Família.
Chegamos no pão da questão: Os programas de assistencialismo. Em programas como o Bolsa Família o brasileiro encontra o pão que era distribuído nos estádios. É Bolsa Família, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação. Ao invés de investir pesado na criação de empregos, na educação, na saúde, no saneamento, o Brasil prefere dar o pão ao cidadão pobre. Alguns, após tempos de Bolsa Família, saem e caminham com as próprias pernas. Poucos.
Na verdade, o Bolsa Família virou manobra política. Alavancar a popularidade do nosso presidente virou um dos objetivos.
Faço minhas as palavras de Anthony Hall, professor da London School of Economics and Political Science em entrevista à Folha de São Paulo:
“Essa certa ênfase em transferências de dinheiro, no curto prazo, é um “remendo”. Não quer dizer que não funcione, mas devemos ser cautelosos. O que pode haver também é uma mudança na mentalidade dos políticos e planejadores, tentação de “curto-prazismo”, de pensar que a transferência de dinheiro seja um modo rápido e popular de entregar os bens e pegar os votos, em vez de investir em saúde e educação pelos próximos dez anos. Não estou dizendo que está acontecendo, mas é um perigo real.”
Roma. Crise política. Crise econômica. Invasão por bárbaros. Crise no exército.
Brasil. É esperar pra ver.
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